Estrada
Tenho arrepios na nuca e coleciono momentos de quase inconsciência nessas seis longas horas de estrada. Fitando a paisagem rugir feito um leopardo pela janela, correndo de mim desesperado, como se soubesse que sou complicada e que minhas tristezas despejo sobre qualquer coisa ao alcance dos meus olhos. Penso sorrateiramente, culpada, no sorriso constrangido e nos olhos baixos. Nessa imagem que guardei para quando quem você é já não me agradasse mais. Vivo de mentiras. Vazia da angústia que tua menção carrega, me resta inclinar a cabeça sobre o braço, deixar a lágrima molhar a pele em um consolo agourento, que promete em outras ocasiões se repetir. Sou escrava desse impulso forte, devorador de tempo, consumindo o resto do que deveria ser a vida fora a busca por um encontro entre duas pessoas. Sua voz é feito um fantasma barulhento, névoa e bruma, descolorindo o cobre terroso que tua pele refletia sobre o sol. Não és mais quente. Coisa plena é a saudade, trazendo lembranças falsas para quem, já miserável, se agarrada à flashes tortuosos de sonhos e realidades. Um sorriso verdadeiro outro falso, um toque provocador e outro repulsivo, uma moeda de apostas, apostando quem serás para mim daqui para frente, depois da lágrima descer pela mão e pousar, dramática como uma ampulheta da decisão no estofado do carro. A estrada faz essas coisas. A escolha flutua na velocidade, em um instante decido por uma interrogação. E no fim, está tudo em branco, não vejo mais a paisagem, as cores se diluem e, você se dilui nesse peito calado, comprimido, pesado. A vontade súbita de beijar-te e rasgar-te com meus dentes vêm da fúria de não saber, porque a fascinação e a ira vem do mesmo corpo e da mesma ideia. A saudade é um pano no fundo, coisa plena, para o espetáculo de quando te descontruo. Tu também correste de mim, feito leopardo, correste. De mim. São terríveis, as interrogações...
Uau, seu jeito de escrever é bem intenso, a leitura fica corrida mesmo com vírgulas e pontos. No final, dá uma sensação de respiração ofegante. Eu amo textos assim, espero que escreva um livro algum dia!
ResponderExcluirCom amor,
❤ Bruna Morgan ❤
Fiquei tão feliz de ler seu comentário! Muito mesmo, primeiro porque adoro seus textos e segundo porque você disse que espera que eu escreva um livro. Significa muito pra mim. Obrigada pela leitura, postarei mais amanhã.
ExcluirQue belo texto!
ResponderExcluir" oisa plena é a saudade, trazendo lembranças falsas para quem, já miserável, se agarrada à flashes tortuosos de sonhos e realidades. "
Este trecho retrata de certa forma, a realidade que tenho vivido. Me identifiquei!
E o que é a vida, se não uma constante estrada?!
Continue a escrever Lua De Carmim! ♡
Oisa na verdade é, coisa*
ExcluirCometi um engano na hora de copiar o trecho, acabei deixando o "C" de fora ahahaha. Sorry!
ExcluirEntendi o que você quis dizer, pode relaxar. Que bom que tu te identificaste com um trecho, essa é como uma recompensa para o que escrevo, ter a identificação de outras pessoas. Obrigada pelo elogio e pela leitura, volte sempre <3
Excluir" [...] como se soubesse que sou complicada e que minhas tristezas despejo sobre qualquer coisa ao alcance dos meus olhos"
ResponderExcluirnão sei como você tem esse dom de tirar as angústias do meu peito e colocar em palavras
Ah Lari, você não sabe que maravilha é ler isso que você escreveu. Muito obrigada. Que eu possa continuar tirando as angústias de teu peito.
ExcluirVolte sempre, abraços.