Habanera

Oh passarinho! Que planas imprevisível sob o colo moreno

(do meu martírio inconsequente)

Tuas asas de rapina selvagem

Esse teu bico picareta molhado do sangue

De tuas bicadas pela Augusta

Apavoram-me deveras. És o pior dos horrores!

Eros imortal, cruel, cultuado por jovens tolos

Tolinhos! Crêem traçar teu voo com um controle remoto

Como se tu não fosses um chatíssimo vôzinho antiquado

E emitisse sinal

Aviso

Qualquer satisfação dessa tua barbárica estripulia pelo universo

L'amour, l'amour, l'amour...

Quer não me quer. Traças teu voo num sorteio pela aleatória roleta daquele bar desértico e opulento, cheio de frescuras, que já visitei algumas vezes, e onde habitam apenas uns decrépitos solitários, uns zumbis lunáticos, a bebericar em taças de prata a própria despedida da consciência e comemorar a vinda de seu casamento (logo alerto, terrivelmente apressado!) com a bandida da esquina de baixo. Lá tudo é rápidao! O barman ricamente trajado, com ares de fidalgo pedante, põe as mãos enluvadas na grande roda da fortuna. Vamos lá! A roleta gira, gira e gira e VROOM! Tu alças voo cortando o salão e deixando chorosa e emocionada a penosa platéia, que agora também bebe as próprias lágrimas. Esses vitimistas de quinta categoria. Desisto deles! Quantas vezes eu falei para não casar com a bendita bandida da esquina. Mas eles teimam, esses tolinhos.

Tudo sob controle

O que são algumas úlceras no coração

Facilmente curáveis pela esoterismo onírico

Poesia, e livros do Paulo Coelho

Na próxima emboscada

Corre velozmente, deixe tudo para trás

Case com a bandida do bairro ao lado? Não Bentinho, jamais.

Finja que não gosta dela, seja seu próprio capataz

Escravizado pelo passarinho

Desgraçado passarinho

Que sorteou-te, está vindo te buscar

Ai meu Deus, que tragédia!

O destino de Romeu é transcendental!

E, se por acaso livrartes da bicada do passarinho

Lembre-se da cantata da Habanera

Mais, si je t'aime 

Si je t'aime, prend garde à toi!