Ártemis

A débil falácia púrpura, advinda de peripécias belígeras, jaz no lado esquerdo do semblante crível e aturdido. Os resquícios do ferro e do fogo ainda queimam o corpanzil fustigado pelos corações atrozes, a deusa retorna para si com ar sepulcral, mortificando-se de suas irmãs em bravata, ainda aprisionadas em cativeiros românticos, amarradas por laços de fita vermelha, vertendo de seus carpos maltratados. É um conto de fadas alienado, um devaneio lunático. Onde estão, para elas, os príncipes encantados?

A cicatriz pungente, fulminante à alma, precipita-se entre os trapos do controle, de voz maciça e hipócrita, a reverberar os revérberos dos inconfidentes, que desde o exórdio do mundo estão estampados na pilhagem vitoriosa da humanidade. Caem por terra os castelos, os palácios, há sangue nos lençóis de seda e os fios de Rapunzel estão há venda no mercado ilegal do amor às avessas. Os grilhões do abalo moral e afetivo são as sequelas das Calistos contemporâneas, submetidos a dizimarem-se em meras memórias, constelações, números; para aquelas vindouras, que não acreditarão que a fantasia é quimera. A grande quimera híbrida, de bisbilhotices e honorabilidade, lançando apologias perversas pelas narinas, oh besta nefasta!

O plangor de Artémis é mortuário, ela roga o suplício, ela ruge a beira do precipício da isonomia. Mas ergue-se resoluta, pois a cor púrpura não a acorvada. Ela é a cor púrpura. Ela é mulher!

E nós, mulherzinhas, nunca nos deixamos matar.