Fantasma

maio 19, 2017
Dissolvida na memória veloz e curta
Dessas minhas jovens íris maculadas
Reside,insubstancial e fosco
Um fantasma
Apático, estranho roedor
Roendo de mim os anos e tecendo comigo
O caminho vil dos covardes

Mãos translúcidas,suaves de uma maciez tóxica
Cândida e impossível perfeição
De uma calamidade crua
Que me afoga em fases da lua
E me ilumina conforme as marés
Cala de mim a vontade, a verdade e sem querer
Cala também qualquer maldade, todo poder
Uma semana,duas,um mês,uma década
Há muito tempo me toca o fantasma

O fantasma eu sou,atrás desse véu
Revelação, ardendo pelos poros em inferno
Sinto uma sussurrante calma no terror de escapar
Meu rosto por tanto escondido
Abre-se numa expressão nua, quer a morte quer descansar
Da sina de ser sempre ser desvisto
Ai como dói levantar

Quando eu era vivo, sem fantasma sem véu ainda
Lembro de um flash desconhecido
Do que é ter sangue nas veias
Daquilo que é dor e daquilo que é medo
Chama me de fantasma
Caminharei entre os vivos
Mal sabem que sou
Menos mortal

O que acontece quando um fantasma se olha no espelho
É um segredo que cabia apenas a mim
Mas agora cabe também a ti
O espelho não reflete
E o fantasma triste,inerte
Sonha em desenhar no reflexo
Um olhar imaginário
É um jeito solitário de se achar quem se é

Enquanto rascunho uma conclusão para esse poema
Busco em minha memória um rosto que se adeque a mim
Ao fantasma que sou caminhante e imortal
E no final do poema no ponto final
Acho-me ,porém
Tu nunca me vês.

4 comentários:

  1. Um poema forte e assustador, me dá uma sensação de que você fala sobre a ilusão da vida, do que existe por detrás do que a gente pensa que vê, mas que se deforma se realmente prestar atenção ... me parece bastante filosófico, porque mais pensar do querer sentir a poesia nele.
    Saudações!

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    Respostas
    1. Saudações! Ao escrever esse poema eu tive um sentimento de procura de identidade, o fantasma a que me refiro é o próprio ser humano em sua busca infindável pela própria substância, objetivo de vida, ou persona. Como o ouroboros.
      Volte sempre! Obrigada pela leitura.

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